terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A MULTA MORAL

Por  José  Odon Abdon (Presidente da  ADEFERN)



O Movimento da Pessoa com Deficiência, em nosso país, começou de fato a ter uma nova roupagem após o ano de 1981, ano dedicado internacionalmente pela Organização das Nações Unidas - ONU às Pessoas com Deficiência.
Foi, a partir desse ano, que passou a proliferar as entidades representativas do segmento de pessoas com deficiência, ano em que, em todo o país, essas pessoas passaram a se organizar em grupo e associações para buscar, para resgatar, para nortear ações, enfim, se apresentarem, realmente, como uma minoria que necessitava de respeito a sua cidadania.
No nosso Estado, a coisa também não foi diferente, pois foi nesse ano que surgiu a nossa Associação dos Deficientes Físicos do Estado do RN - ADEFERN, a nossa "Mãe Pródiga".
No início, as Pessoas com Deficiência, ainda um pouco temerosas de se apresentarem de forma mais incisiva para a sociedade, ficavam no aguardo das mudanças. Poucas pessoas se expunham, raro era encontrar nas ruas uma pessoa utilizando uma cadeira de rodas, uma muleta, ou mesmo pessoas com pequenas deficiências.
Lembro bem que nessa época, uma considerável parcela da população, até mesmo pela falta de informação e formação, não faziam qualquer distinção entre uma pessoa com deficiência e um "mendigo". Isso é um fato e uma realidade que não podemos esconder.
Passado alguns anos, as pessoas com deficiência passaram a ser respeitadas e ter, dessa mesma população, uma conceituação diferente. Graças ao trabalho das instituições que os representava, a conscientização da sociedade em relação ao potencial dos deficientes aumentou já que se viam grandes exemplos de pessoas com deficiência que praticavam e iam em busca de sua cidadania, inseriam-se nos esportes, nas artes e na cultura, na política, no mercado de trabalho produtivo/competitivo. Enfim, mostrando para sociedade suas potencialidades.
Essas mudanças fizeram com que esses tivessem uma melhora na sua qualidade de vida, passando a ser consumidores contumazes e extrapolarem seus direitos reprimidos. Entre os direitos de consumo, uma maioria significativa passou a adquirir automóvel, um bem móvel que para as pessoas com deficiência não é sinônimo de "status", mas, sim, uma necessidade premente como ajuda em seus deslocamentos.
Adquirido os automóveis, era necessário que as pessoas com deficiência gozassem do direito de obter vagas especiais em estacionamentos, vagas essas que devem ser colocadas o mais próximo possível dos locais onde eles devam e possam ser atendidos.
Infelizmente, a conscientização das pessoas "ditas e tidas" como normais ainda deixa muito à desejar. É como diz a famosa Lei de Gerson:"Gostam de levar vantagem em tudo, e quando se refere às pessoas com deficiência, a coisa se torna ainda muito mais complicada, quase sempre por nos acharem indefesos, frágeis, impotentes para certas situações, fazem coisas ao seu jeito sem se preocupar com as pessoas menos favorecidas fisicamente."



Por todos os fatos e situações, pelo incomodo que é para as pessoas com deficiência quererem estacionar seus automóveis numa vaga destinada a eles e não conseguirem por já está ocupado por uma pessoa que NÃO é deficiente, é que a ADEFERN CRIOU no nosso Município do Natal, a MULTA MORAL, como forma de conscientizar a sociedade para que a mesma passe a respeitar as vagas destinadas às pessoas com necessidades especiais.
Na MULTA MORAL está descrito as penalidades ocasionadas pela ocupação dessas vagas específicas, valor monetário a ser pago caso haja infração, assim como a exposição do automóvel que poderá ser rebocado pelo órgão responsável pelo Trânsito da Cidade, Semob - Secretaria de Mobilidade Urbana.
Essa foi a maneira encontrada pela nossa Associação para que as pessoas que estacionam em vagas que não são destinadas a elas, se conscientizassem.
A questão da consciência cidadã, sem sombras de dúvidas, parte da educação de cada um enquanto integrante da sociedade e que divide esse espaço urbano ou rural com outras pessoas.
Assim é a MULTA MORAL, a busca do despertar da consciência cidadã, sem exclusão, sem discriminação e sem preconceito, sem querer levar vantagem em cima de quem vive já em desvantagem e desconforto sobre todos os aspectos. É bom lembrar que a deficiência é uma situação da qual nenhum cidadão ou cidadã está imunizada, ela pode acontecer de repente para qualquer indivíduo, independentemente da raça, cor, religião, condição financeira ou status social. E quando isso acontecer, será assim que o ser humano poderá sentir na pele uma deficiência e o quanto mereceremos ser respeitados. 
A MULTA MORAL jamais deveria ser pensada ou existir se parte da nossa sociedade fosse mais humana, mais cidadã, mais respeitosa e entendesse a dificuldade que uma pessoa com deficiência passa em seu cotidiano.







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