terça-feira, 4 de junho de 2013

O QUE TAMBÉM VI DA VIDA E O QUE ME INCOMODA AINDA VER

Algumas pessoas, às vezes, me questionam e fazem alguns comentários dizendo e achando que eu sou "duro na queda". E eu até compreendo e me divirto e, de repente, fazendo uma breve avalização, chego mesmo a uma conclusão: sou mesmo um cara que é duro de morrer. Senão, vejamos: já cheguei aos sessenta e dois e acho que ainda vou chatear muita gente que pensa que pode me enganar, quer dizer, enganar a mim até pode, não pode é enganar a Deus. Será que você me entendeu?

Quando falam que sou "duro na queda" é porque, ainda quando eu era criança, eu sofri dois acidentes de carro. Quando, no primeiro, morreram sete pessoas e no segundo, oito. E eu sequer tive um arranhão. Tais acidentes quase no mesmo local, na Famosa Serra do Doutor, entre os municípios de Serra Cruz do Inhare e Currais Novos.

Ainda quando criança, fui vítima de afogamento. E já como adulto, aos vinte e quatro anos, fui assaltado e baleado com dois tiros de revólver 38. Um que me atingiu a coluna vertebral se alojando entra a quinta e sexta vértebra cervical que ocasionou uma compressão medular e que acabou por me deixar paraplégico. O segundo, apenas causou um dano em minha coxa direita.

Esse acidente de percurso, rendeu-me quase dois anos de internamento em hospitais na Cidade de São Paulo, onde acorreu o assalto.

Mais recentemente, no ano de 2010, num simples exame de rotina, descobri um câncer no pulmão direito: um nódulo maligno encravado entre o pulmão e o coração.

Basta dizer que fui fumante por quarenta anos e o tipo de câncer do qual fui acometido não é causado por fumo. E sim, ocasionado pelo estresse. Nem precisa perguntar de onde veio esse estresse e logo vão perceber que a minha luta, e de muitos companheiros, vive cercada de muitas emoções que nos submetem a situações estressantes.

Moral da História: 

Tive que extirpar esse maldito câncer. E acreditem, se quiser, não tomei qualquer medicamento e nem sequer um comprimido de melhoral. Não foi preciso e plagiando o saudoso José de Alencar que foi o Vice-Presidente da República no Governo de Lula: "Deus pra me levar, não precisa de câncer!" Foi assim que descobri que minha hora não havia chegado.

Hoje, estou completando meu sexagésimo segundo aniversário e posso afirmar que o que vi da vida foi muita vitória sob todos os aspectos. Posso me considerar um vitorioso e um cara "duro na queda" e nesses muitos anos de vida e de luta em favor da pessoa com deficiência, que, na verdade, levou minha juventude, minha meia idade, minha melhor idade e que se tornou meu vício e é meu norte.

Posso dizer, com certeza, que eu vi da vida muita entrega, muita luta e muita busca pelos nossos direitos e cidadania. Muitas ações que fortaleceram um segmento social antes nem tanto acreditado. Mas, hoje, muito identificado com o verdadeiro significado da palavra LUTA.

Fui testemunha fiel de muitas vitórias, decepcionei-me com algumas derrotas, vi muitas injustiças. E como se diz o nosso Eterno Rei Roberto Carlos: "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções, eu vivi"
E o que ainda me incomoda ver?

Certamente, ver alguns oportunistas querendo aparecer para se promover em nome da pessoa com deficiência. Pegando carona no nosso trabalho, se locupletando na acepção da palavra. Utilizando-se, muita vezes, da nossa simplicidade e até mesmo ingenuidade já que não lutamos por uma causa para enriquecermos financeiramente e sim, para enriquecermos em conhecimento e termos mais oportunidade de discutirmos melhor a nossa causa.

Nomes,não devemos e nem queremos citar. Instituições, entidades, associações, segmentos, seja qual for a titulação, nem pensar, afinal, a carapuça recai na cabeça de quem se achar identificado com o que estamos escrevendo.

O que quero dizer é a pura verdade e falo por mim, pois não tenho "rabo preso". Isso é um pensamento de um punhado de militantes da causa e incômodo não vem de agora. E esse tipo de gente só vem aumentando, então precisamos colocar mesmo a boca no trombone.

A minha independência me permite esse posicionamento e talvez, eu esteja abrindo uma janela para outros companheiros se posicionarem e dizerem para todos e para cada um: "NADA DE NÓS, SEM NÓS"

José Odon Abdon
Presidente da ADEFERN

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