quinta-feira, 4 de julho de 2013

PALHAÇOS OU MÉDICOS? MÉDICOS OU PALHAÇOS?

Não é surpresa para mim, vê nascer em alguns companheiros identificados com a luta em favor das pessoas com deficiência no RN, um sentimento que aos poucos vai tomando corpo e incutindo uma nova ideia na cabeça das pessoas ao longo de anos a fio: busca pela cidadania das pessoas com deficiência.
Hoje, por acaso, vi postado, no Facebook, uma frase de um nobre companheiro que me fez refletir demoradamente sobre o atual quadro político do país e como não poderia ser diferente, fez-me esbarrar detidamente nas questões pertinentes à nossa causa, a luta em favor do segmento que representamos.
E o que em chamou atenção? Claro que foi a frase que um dia usei para mostrar ao então Governador do nosso Estado, Dr. Geraldo Melo, quando sem qualquer constrangimento colocou ocupar cargos na administração estadual e representar as Pessoas com Deficiência, assim foi o CRI, CORDE E CODIM. E pelos fatos, fomos obrigados a dizer numa certa data, na sua própria residência, que as coisas em nosso Estado não andavam porque o "governador" sempre colocava palhaço no lugar de médico e médico no lugar de palhaço.

Nessa frase está embutida uma grande verdade e está contida numa profundidade digna de análise para se obter veredicto. O pior de tudo é que a prática ainda é costumeira nas administrações do nosso Município e principalmente, em nosso Estado.
Quando vi postada a frase do companheiro Décio Santiago, senti o quanto é profunda, o quanto ele é verdadeira e atual. E se analisarmos, é o complemento do nosso jargão tão popular junto ao segmento "Nada de nós, sem Nós".
Isso é mais que uma cobrança, é mais que um desabafo de e para uma situação que está nos constrangendo. O fato de pessoas "ditas e tidas" como normais quererem nos tutelar e responder por nós. Tomar decisões por nós, pedir e revogar por nós como se fôssemos pessoas alienadas ao invés de, simplesmente, pessoas com deficiência.
O que incomoda mais é que "algumas pessoas" se acharem no direito de responder por instituições tão somente porque têm um filho, um neto, um sobrinho ou um filho de uma amiga nascido com deficiência ou adquirida. O que me incomoda é que muitas dessas pessoas não vão em bala dividida, não querer roer osso, só querem comer do Filé Mignon. Muitas delas, como costumo dizer, sequer conseguiu atravessar um cedo na rua e ainda diz que trabalha para o social.
Na realidade, só querem ser capa de revista e aparecer na mídia, como ter o status de poder. Mesmo sabendo que isso é faca de dois  gumes, pois o risco que corre o pau, corre o machado. E nem sempre o poder dá IBOPE, às vezes, queima as pessoas.
São essas pessoas que não contribuem em nada para que a nossa luta engrandeça e falo isso, sem menor medo de errar. Só me dou ao direito de ter um posicionamento próprio e sei que alguns já começam a enxergar a verdade, a realidade e a tomar posições que, com certeza, vão se agigantar. É simples questão de tempo.
Recentemente, recebi uma cartilha elaborada pela OAB/RN, contendo algumas situações que fiz respeito à pessoa com deficiência e que induz pessoas simples e que não tem exata noção da profundidade dos escritos, a acharem no direito de gozarem alguns direitos. Nesse sentido, tenho recebido na ADEFERN, pessoas com deficiência que buscam meios para obter o Benefício de Prestação Continuada da Previdência Social, tendo em vista que a cartilha diz que: "pessoas com deficiência cuja per capita seja igual ou inferior a 1/4 de salário mínimo para cada pessoa residente no mesmo domicílio, gozarão do direito.
Infelizmente, isso não é verdade. Para se obter o Benefício é necessário que a Pessoa com Deficiência, além dessa "desgraçada" renda, seja incapacitada para o trabalho.
Quando a coisa é tratada dessa maneira, passa a ser um "desserviço" e o pior, é que os incautos acreditam e acham e até sonham em obter o Benefício mesmo faltando um dedo do pé ou da mão como se isso determinasse a sua incapacidade para o trabalho.
Outro "desserviço" da cartilha é dizer que as pessoas com deficiência que tenham o cadastro junto à SEMOB, antes STTU, gozam do direito à gratuidade nos transportes coletivos do Município de Natal. Será que as pessoas que elaboraram a cartilha moram mesmo em Natal? Para se gozar da gratuidade tem de responder a diversos requisitos e não é somente com cadastro.
Não estamos querendo polemizar, só queremos que a sociedade e o Poder Público Governamental entendam que não somos tutelados, tampouco medíocres para não podermos dirigir as nossas próprias entidades representativas na condição e na qualidade de pessoas com deficiência.
Como posso entender uma pessoa com deficiência avaliada por uma Junta Médica Especial para comprovar a sua deficiência e analisá-la para lhe conceder ou não o ingresso no Mercado de Trabalho? Essa pessoa é dada como apta para ingressar no Mercado, assim como, apto a frequentar cursos, universidades, etc. E essas pessoas, mesmo assim, não estão aptas para dirigir suas entidades  que lhes representam? Algumas coisa está cheirando mal numa situação dessas, isso não pode estar certo.
Como entender que um órgão que representa às Pessoas com Deficiência em Nível Estadual não contar em seu quadro de funcionários com uma única pessoa com deficiência? Não quer ser questionado pelo que estou escrevendo no momento, só quero fazer com que entendam: "isso eu não concordo". E o que posso fazer é me congratular com todas as pessoas que como nós acham que "estão colocando o palhaço no lugar do médico e o médico no lugar do palhaço".

José Odon Abdon
Presidente da ADEFERN

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